VIANA, Nildo. Os Movimentos Sociais. Curitiba: Editora Prismas, 2016.
O
livro Os Movimentos Sociais é uma
introdução a uma teoria dos movimentos sociais numa perspectiva marxista. Ele
cumpre o papel de superar a lacuna da falta de uma teoria dos movimentos
sociais na abordagem marxista, além de trazer diversos elementos que podem ser
aproveitados em concepções não-marxistas. A obra consegue inovar no sentido de
apontar um novo conceito de movimentos sociais, mais profundo e embasado que na
maioria dos casos, e apresentar relações antes pouco desenvolvidas por outros
autores, tal como na relação entre movimentos sociais e mercantilização ou
burocratização.
Assim,
a obra inicia com o conceito de movimentos sociais, base de todo o
desenvolvimento posterior, inserindo esse fenômeno social na totalidade das
relações sociais. O conceito de movimentos sociais apresentado vai além dos
demais existentes por estar fortemente embasado em uma perspectiva teórico-metodológica
e por não ser construído a partir de uma derivação de um movimento social
particular e sim como sendo expressão do que é característico do conjunto dos
movimentos sociais. Um dos méritos reside na distinção entre movimentos sociais
e suas ramificações, apresentando uma interessante discussão sobre a diferença
entre um movimento social em sua totalidade (tal como o movimento negro) e suas
partes derivadas (organizações, ideologias, tal como o MNU – Movimento Negro
Unificado, Frente Negra, Partido dos Panteras Negras, etc., que são
organizações oriundas do movimento negro e não ele em si).
Após
uma longa discussão e fundamentação do conceito de movimentos sociais, passa-se
para uma análise da relação entre esse fenômeno e as lutas de classes. Isso é
realizado nos demais capítulos, sendo que nesse focaliza apenas a questão da
composição social (de classe) e da hegemonia interna nos movimentos sociais,
gerando suas variedades (movimentos sociais conservadores, reformistas e
revolucionários). Essas variedades de movimentos sociais estão intimamente
ligadas à sua composição social e hegemonia interna.
O processo analítico continua com
a análise do modo de produção capitalista, da acumulação de capital e seus
efeitos sobre o movimentos sociais. Nesse capítulo, ganha destaque a discussão
sobre mercantilização promovidas pela dinâmica capitalista, bem como a relação
dos movimentos sociais com tal processo e com os regimes de acumulação, gerando
“ondas de mercantilização”, que se aprofundam cada vez mais. A discussão sobre
movimentos sociais e Estado tem como mérito analisar as formas de relação entre
ambos. Nesse momento, aborda questões como cooptação, omissão, repressão (e
criminalização), burocratização, entre outros aspectos, a partir da iniciativa
estatal, e as orientações estatistas e civilistas, a partir da iniciativa dos
próprios movimentos sociais. Na parte dedicada à análise da sociedade civil, os
movimentos sociais aparecem em sua relação com a burocratização, com os
partidos políticos, bem como destaca os conflitos sociais e existência dos
movimentos sociais populares, ligadas às classes sociais desprivilegiadas. Por
fim, a questão cultural é apresentada em toda sua complexidade, envolvendo as
produções intelectuais (ideologias, representações cotidianas, crenças, etc.) e
sua relação com os movimentos sociais, as lutas de classes e todo o processo
social. A questão da produção social da cultura, da sua eficácia prática, bem
como de seu caráter ilusório ou verdadeiro, são abordados no interior da
dinâmica da sociedade e dos movimentos sociais.
Em síntese, é uma obra abrangente
sobre os movimentos sociais, abarcando os mais variados aspectos dos mesmos,
numa síntese teórica que explicita o que são os movimentos sociais, qual sua
dinâmica e tendências na sociedade capitalista.
Texto da orelha do livro:
O
livro de Nildo Viana trata de um dos temas mais relevantes na atualidade: os
movimentos sociais. A relevância decorre de vários motivos, incluindo a grande quantidade
de movimentos que vemos na atualidade, movimentos muitos diversos na sua
composição social e nos seus objetivos. Apesar disso, existe uma lacuna teórica
no que diz respeito aos movimentos sociais, pois a maioria dos autores tende a
partir de uma concepção empiricista para definir os movimentos sociais e isso provoca
muitas confusões na definição do conceito de movimento social. Uma das
contribuições de Nildo Viana está na separação entre movimentos sociais e movimento
de classe e também na discussão sobre transformação social. Nesta obra o leitor
encontrará subsídios teóricos para refletir sobre os rumos que os movimentos
sociais apontam para a sociedade: eles contribuem para a transformação social
ou dificultam? A ascensão dos movimentos sociais no século 20 tem relação com o
declínio dos movimentos de classes? São questões que o presente livro analisa e
contribui com a reflexão do leitor.
André
de Melo Santos
Trecho do Prefácio:
O livro Os Movimentos Sociais,
de autoria de Nildo Viana, chega em boa hora. Trata-se de uma demonstração de
que o pensamento autônomo, livre, instigador é possível em época de capitalismo
neoliberal conformista.
O que propõe o autor é refletir e delinear uma conceituação acerca dos
movimentos sociais apresentando, ao longo do livro, uma análise, que de modo
claro, apresenta os principais equívocos teóricos e históricos nas definições
de movimentos sociais. Tanto os autores ditos “marxistas” quanto autores de
diversas outras linhagens teóricas e metodológicas são repensados a partir de
suas limitações conceituais.
[..]".
Cleito Pereira dos Santos
SUMÁRIO
05 -
Prefácio
09 -
Introdução
25 -
O Conceito de Movimentos Sociais
63 -
Movimentos Sociais e Luta de Classes
109 -
Movimentos Sociais, Capitalismo e Acumulação de Capital
133 -
Movimentos sociais e Estado
151 -
Movimentos sociais e Sociedade Civil
173 -
Movimentos sociais, Cultura e Ideologia
203 -
Considerações Finais
205 -
Referências
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